sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Pavio Curto e Dom Waldyr Calheiros: uma história antiga

Por Alvaro Britto

“O nome é muito inteligente. Dizem por aí que eu tenho pavio curto. Já é uma identificação. Me alegro muito com essa iniciativa de vocês, ao resgatar aqui na região a imprensa alternativa. Parece que não é nada, mas é uma semente. E a gente sabe que uma semente desaparece mas depois reaparece com mais força. Evidentemente há um tempo de fermentação debaixo da terra. Mas depois ela vai florir. E aí a gente pergunta: por quê? E acaba lembrado da semente.”

Dom Waldyr Calheiros (1923 - 2013), em entrevista ao Pavio Curto realizada em 8 de março de 2001. 

Há vinte anos, quando lançamos a versão impressa do Pavio Curto, Dom Waldyr aceitou prontamente ser o nosso primeiro entrevistado, acreditando e comemorando a iniciativa, e também profetizando sobre a nossa trajetória, como disse nas palavras acima. Você confere ao final da reportagem a íntegra dessa que foi a primeira entrevista explosiva do Pavio, republicada pela primeira vez após duas décadas.

Para ler a entrevista de Dom Waldyr ao Pavio Curto, CLIQUE AQUI.


Lançamento do livro


Na noite chuvosa de 30 de novembro deste ano, oito anos após a morte de Dom Waldyr, o Pavio Curto não poderia deixar de estar presente, no lançamento do livro ‘Dom Waldyr Calheiros, Dom e Profecia: entre o Báculo, Estrelas, o Aço e a Botina’, de autoria dos historiadores e professores Luiz Henrique de Castro Silva e Hugo Leonardo Borba. O local escolhido para o evento foi o Memorial Zumbi dos Palmares, em Volta Redonda, um espaço público e aberto que, segundo um dos autores, o professor Hugo Leonardo, sinalizou “a abertura de Dom Waldyr e também a dimensão plural do seu pastoreio nas diversidades.”

Foram horas de muita emoção, afeto e troca de experiências do convívio com Dom Waldyr Calheiros, seja físico ou através do seu legado que plantou várias sementes por onde passou, em especial na região Sul Fluminense. O evento foi aberto pelo canto de ‘Pai Nosso dos Mártires’, que muito bem simboliza a caminhada, o compromisso e o legado de Dom Waldyr. 


Em seguida, os autores compartilharam a motivação, a experiência e o desafio da  elaboração do livro. Segundo o professor Luiz Henrique, o livro foi construído por várias mãos. 

-  No próprio título está marcada a ação plural de Dom Waldyr, onde tentamos destacar toda sua trajetória. A relação profética que ele estabeleceu na Diocese, a partir de uma formulação do Concílio Vaticano II e da Conferência dos Bispos da América Latina em Medellín, em 1968 (báculo); a resistência à ditadura militar na região do Sul Fluminense (estrelas); a questão da exploração dos trabalhadores dentro do processo fabril representado pela CSN (aço) e a proximidade que ele teve com os operários e suas lutas por direitos e dignidade (botina), fato que o tornou conhecido como o bispo dos operários, conferido pelos seus pares da CNBB”, explicou o historiador. 


Palavra aberta: muita emoção


Após suas falas, os escritores convidaram para testemunhos quatro representantes de algumas das inúmeras frentes de atuação de Dom Waldyr Calheiros na região Sul Fluminense.  Participaram Adelaide Afonso, da Comunidade São Paulo Apóstolo e  militante do Movimento Negro; Edir Alves, da Comunidade São José Anchieta, ex- preso político, dirigente da Juventude Operária Católica (JOC) e membro do MEP-VR; Márcia Lobão, do movimento pela moradia, representando Maria de Lurdes, a Lurdinha, ex-coordenadora da Comissão de Posseiros e  coordenadora do Movimento Nacional de Luta pela Moradia; e o padre Normando Cayouette.

 


Na sequência, a palavra foi aberta aos presentes. A primeira a falar foi Dodora Mota, professora e líder sindical e popular, amiga do Pavio Curto desde sua criação há vinte anos e que participou da histórica entrevista com Dom Waldyr Calheiros em 2001. Muito emocionada, ela contou sobre o apoio que recebeu do então bispo para prosseguir seus estudos e se formar professora e da intervenção decisiva de Dom Waldyr para que a tortura ao seu irmão e outros presos políticos no antigo Batalhão de Barra Mansa durante a ditadura militar fosse suspensa. Ela foi seguida por falas de Inês Pandeló, Reimont Otoni e várias outras pessoas que conviveram ou vivenciaram o legado de Dom Waldyr Calheiros. 

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