quarta-feira, 23 de março de 2022

Julinho dos Palmares recebe de Dani Monteiro a Medalha Abdias do Nascimento


No último dia 22 de março, o grande artista e militante Julinho dos Palmares recebeu da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL) a comenda Abdias Nascimento. O evento aconteceu no Clube Palmares em Volta Redonda.

Prestigiaram a entrega lideranças do movimento social e autoridades locais, entre elas Maria das Dores Mota, a Dodora, amiga do Pavio Curto, o presidente Clube Palmares Edson Daniel e o secretário de Cultura de Volta Redonda Anderson de Souza, além de artistas da região Sul Fluminense.

Foi exibido um curta metragem contando a história do Clube Palmares, fundado em 1965. A principal motivação foi a proibição da participação de negros nas diretorias dos clubes locais e e até o acesso às suas sedes.

Dani Monteiro destacou a importância de valorizar espaços como o do Clube como local de resistência. A deputada também contou sobre a dificuldade para aprovar a indicação de Julinho dos Palmares à medalha Abdias Nascimento e sobre as articulações para mudar o nome da medalha para Hélio Bolsonaro. “Parece mentira, mas aconteceu!”, afirmou ela.


Na entrega oficial, Dani Monteiro citou um dos poemas de Julinho publicado em seu livro Cinema Pessoal:

“Abidiáspora Africana

A abidiáspora africana é Abidias Nascimento

É lutar Abidias e noites contra um sistema excludente e violento

Abidias melhores virão

Abidias de glórias

 Abidias de vitórias

Abidias de alegrias

Abidias Nascimento nascerão

Para eternizar nossa história”


A noite terminou com uma roda de samba e muita alegria!

Abdias do Nascimento (1914 -2011) foi atorpoetaescritordramaturgoartista plásticoprofessor e ativista dos direitos humanos. Indicado ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, fundou o Teatro Experimental do Negro, o Museu da Arte Negra e o IPEAFRO. Idealizador do Memorial Zumbi e do MNU, atuou a Frente Negra Brasileira, a Negritude e o Pan-Africanismo. Foi fundador do PDT em 1981, chegando a ser vice-presidente da legenda. Foi deputado federal e senador, além de secretário do governo Leonel Brizola no RJ. Abdias também é uma da fagulhas que inspiram o Pavio Curto!

 

Texto e fotos: Clovis Lima

#julinhodospalmares   #culturanegra

 

segunda-feira, 21 de março de 2022

Entrevista exclusiva e explosiva com Fabíola Rodrigues

 Percebemos nas ruas uma enorme aceitação da chapa feminina e com isso várias mulheres se fortaleceram e pensam em começar a atuar politicamente.”

Por Alvaro Britto


Mulher, sagitariana, nascida em Itatiaia, com descendência indígena guarani, morou e estudou no Rio. Atriz e ativista cultural, atua na Companhia de Teatro Os Ciclomáticos. Mãe de duas filhas, poeta, educadora, estudante, militante de esquerda...Fabíola Rodrigues foi candidata do PSOL à prefeitura de Itatiaia, com apoio do PT, PCdoB e PSB na eleição suplementar realizada em 13 de março. Tendo como co-prefeita a servidora municipal Ricarda Helena, também do PSOL, não ganhou a eleição, mas obteve uma vitória política importante para a luta das mulheres e das forças populares da região.  Ao unir a esquerda, Fabíola demonstrou liderança, carisma e capacidade de agregar, realizando uma campanha histórica sem promessas, ofertas de cargos e pouquíssimos recursos, mas com muita garra e presença nas ruas junto com militantes e apoiadores voluntários, além de propostas claras e sinceridade, sendo destaque nas entrevistas realizadas pela mídia regional. Também foi a única candidatura de oposição a todos os grupos que se revezaram no poder de Itatiaia ao longo dos anos e aos governos estadual e federal.  


POR QUE DECIDIU SER CANDIDATA?


“Eu tenho uma insatisfação com injustiça. Eu não suporto injustiça. Tudo que me parece injusto eu quero corrigir. Tenho percebido muitas injustiças na cidade de Itatiaia, o que me incomodou e causou indignação. Por isso decidi aceitar a proposta de vir candidata. Esse meu senso de justiça aflorou para essa maneira de encarar a situação.”


DESCENDÊNCIA INDÍGENA E SIGNO


“Quando me colocam como descendente indígena eu tenho dificuldade de me reconhecer porque é uma descendência muito distante. Todo brasileiro tem um pouco de indígenas e negro no meio disso tudo. A história que contaram para mim é que minha tataravó foi pegada a laço em uma fazenda em Barra Mansa, na região da antiga fábrica da Nestlé.  Ela era guarani. É só o que eu sei, porque a família nunca falou muito sobre isso. Sou sagitariana, de 11 de dezembro, mas eu acho que a ascendência em Peixes é que fala mais alto na minha vida.”


ARTE E POLÍTICA


“A minha vida política e o meu pensar político começaram junto com o teatro. A arte é reveladora por si só. A minha função educadora começou com o teatro. Hoje estou estudando licenciatura em Pedagogia porque lá atrás eu fiz Direção Teatral na UFRJ e vi que a arte tem um potencial de entretenimento mas tem no seu cerne a educação, de forma leve. Eu quis levar isso também para dentro de uma educação muito tradicional e rígida que vivemos no Brasil, já que ainda não conseguimos mudar essa estrutura industrial da educação. Então eu penso que esse olhar artístico e cultural é possível abranger uma educação mais ampla. Todas essas ideias eu quero colocar em prática. Por isso também eu aceitei ser candidata.”


MULHERES NA POLÍTICA


“Acredito que as mulheres devem ser mais participativas na vida política das cidades e do país como um todo. A gente luta nos movimentos para ampliar os nossos direitos mas sempre encontramos barreiras nos políticos. Só a própria mulher tem um olhar para garantir esses avanços. Mas não é qualquer mulher. Infelizmente, há mulheres no poder que ainda alimentam o machismo estrutural. Precisamos de mulheres na política com um pensamento mais amplo, mais progressista em pensar essa dinâmica social, de formação da mulher atuante para manter e ampliar os nossos direitos.”


REGISTRO DA CANDIDATURA


“Houve um problema no CANDex, o sistema de registro de candidaturas da Justiça Eleitoral, que também afetou os outros partidos. A ata da Convenção partidária não estava sendo inserida pelo sistema junto com o processo de registro da candidatura, mas não fomos comunicados desse problema. Nossa ata estava correta, tanto que na segunda-feira seguinte a levamos na Prefeitura para formalizar a licença eleitoral da Ricarda, obrigatória pela legislação já que ela é servidora pública. Quando descobrimos que o registro não havia sido efetivado por causa da ata, tentamos resolver no cartório eleitoral mas nosso recurso não foi aceito. Todos os outros partidos tiveram a informação de alguma forma e levaram a ata presencialmente ainda dentro do prazo, menos a gente. Foi aberta pela Justiça Eleitoral uma segunda versão corrigida do CANDex mas, mesmo com o auxílio do cartório, também não conseguimos formalizar o registro. O caminho então foi fazer o registro individualmente e não pelo partido, o que é previsto na legislação eleitoral a partir de um certo prazo. Na hora, o sistema selecionou o meu primeiro sobrenome, ficando Fabíola Soares em vez de Fabíola Rodrigues, e na pressa o rapaz acabou não corrigindo. Mas acredito que não confundiu ninguém, já que eu era a única mulher e a única Fabíola candidata. E todos os nossos votos foram computados normalmente.”


MACHISMO NAS RUAS


“Nós mulheres sofremos preconceito diariamente que muitas vezes é imperceptível ao olhar masculino. É uma questão de educação a longo prazo e essa é nossa proposta. Só o fato de termos uma chapa com duas mulheres já é uma ruptura com esse preconceito e importante para mostrarmos que qualquer mulher é capaz e preparada para participar da política. Infelizmente isso é pouco falado e até questionado. Houve um episódio marcante, próximo à escola Wagner Guimarães, quando eu estava fazendo campanha no ponto de ônibus e um rapaz provocou dizendo que Itatiaia teria um rei na prefeitura. Eu questionei perguntando “Por que não uma rainha?”. Ele começou a debater comigo de forma extremamente agressiva, sendo que nem morador de Itatiaia era.  Eu respondi educadamente explicando quais as várias necessidades que as mulheres têm na cidade. Foi quando eu percebi que várias mulheres se aproximaram e ficaram junto comigo, demonstrando solidariedade. Ele sentado e nós em pé. E aí ele começou a abaixar o tom da voz quando elas começaram a falar em meu apoio. Independente de votarem em mim ou não, entenderam a necessidade de estarem junto ao perceberam que ele não estava agindo corretamente, pois nem era da cidade e cresceu a voz para mim porque eu sou mulher.”


MACHISMO ENTRE APOIADORES



“Também houve no grupo de apoio uma situação bem complicada. Inclusive a pessoa saiu do grupo após a discussão. A mulheres do Partido e demais apoiadoras estavam organizando o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Não era uma atividade da campanha eleitoral, que inclusive teria caminhada na parte da manhã. Seria exclusiva para as mulheres debaterem nossas questões e direitos, as pautas feministas, inclusive aquelas referentes à cidade. Isso foi questionado por um apoiador, alegando que em pleno 2022 estávamos querendo separar a campanha em grupos de mulheres e de homens. Eu argumentei de que era um momento nosso, de conversarmos sobre nossas dores, nossos problemas, de expormos nossas ideias, nossos pensamentos. Assuntos que não queremos que sejam ouvidos pelos homens. Se ele quisesse um dia debater questões masculinas, como virilidade ou saúde da próstata, e pretendesse criar um grupo de homens teria todo o nosso apoio. Após o 8M, iriamos divulgar os projetos e ações decididos. Essa posição causou incômodo, mas ficou restrito a essa pessoa, que se retirou do grupo. Acredito que ele não entendeu o projeto da chapa feminina, mas os demais homens do grupo se sensibilizaram e apoiaram a atividade do 8M. Isso foi um bom começo. “


CHAPA FEMININA


“Percebemos nas ruas uma enorme aceitação da chapa feminina e com isso várias mulheres se fortaleceram e pensam em começar a atuar politicamente. A nossa campanha foi uma vitória. Como educadora, e Ricarda também, o mais importante é o processo e não o resultado final. Se você focar só no resultado, acaba perdendo todo o aprendizado ao longo do caminho. O processo da nossa campanha foi muito positivo, mesmo que para alguns o resultado nas urnas não tenha sido muito significativo, o que discordo. Importante o que retiramos e avançamos com o processo.  Conhecemos uma nova Itatiaia, onde mulheres estão buscado a libertação. Queremos incentivar essa participação de mulheres comprometidas com a garantia e ampliação dos nossos direitos.”


FUTURO POLÍTICO


“Já estou fazendo uma monte de coisas hoje. Não existe futuro político. Eu sempre fui política, apenas não atuava na política institucional. Quando saí candidata, fiquei super preocupada de como as pessoas iriam receber. Todo mundo entendeu perfeitamente. Só eu me assustei. Familiares, amigos, colegas, todos já me viam como política. Já era esperado. Só eu que ainda não me via como política. O meu futuro é a continuidade do que já venho fazendo. Não penso em carreira política, vir vereadora, deputada... eu penso em fazer política.  Temos os nosso projetos para a cidade. O movimento popular é a base de tudo. Fortalecer e levar informação à população é fortalecer o Estado de Direito e a cidadania. Independente de estar no governo, eu estou atuante nos conselhos, nos movimentos, e sempre vou estar. Descobri que sou uma pedra no sapato desses políticos tradicionais e continuarei sendo.”


UNIDADE DA ESQUERDA


“Essa questão de agregar e unir pessoas ao meu redor foi muito em função do projeto e principalmente da verdade. Quando você é verdadeira, tem uma verdade, assume algo para si, e chega para a pessoa e diz “é possível!”, isso fortalece.  E eu dizia “é possível mas eu quero você junto comigo!”. No início eu fui meio jogada nesse processo. Quem convidou a maioria das pessoas e articulou o grupo de apoio foi o Ronaldo do PSB. Ele organizou e disse: “toma!”. E as pessoas só vieram comigo porque acreditaram na chapa feminina. E desde o início eu disse que ganhar a eleição não era o objetivo principal, mas consequência de um trabalho, de um projeto, que é a educação política de Itatiaia.”


SUPERAR OS PRECONCEITOS


“Uma educação política mais profunda é colocar uma mulher negra, trabalhadora, da base, popular mesmo, que seja reconhecida pela sua experiência de vida, que saiba do que está falando por sua vivência. E muito foi questionado se a Ricarda estaria preparada para assumir. Eu vejo nisso pelo menos três preconceitos. Por ela ser negra, ser mulher e por ela vir da base, ser uma mulher simples, ter origem popular.  No entanto, se você escuta a história de vida da Ricarda, não tinha ninguém mais preparada do que ela na campanha. Foi uma lutadora das adversidades, uma conquistadora. Tudo o que tem na vida foi fruto do seu trabalho, de perseverança e de planejamento. Uma mulher cuidando sozinha de crianças, estudar para passar num concurso público, se empenhar para entrar numa faculdade, manter a sua família com dignidade.”


UMA CO-PREFEITA PREPARADA


“Ricarda tem uma organização, um planejamento, uma estrutura sem igual. Fez vários cursos, como esse fitoterápico, que ampliou seu conhecimento sobre as plantas, que já era um conhecimento ancestral do seu pai, que era mateiro, como ela diz. Ele entrava no mato para colher raízes e plantas e ela ia junto. Mesmo com essa experiência, ela buscou o estudo científico. Ela é uma pessoa que está sempre estudando, em contínuo progresso e avanço. Eu acho que ela seria o retrato ideal de Itatiaia e poderia vir como a candidata a prefeita. Eu fui escolhida porque ela é tímida e eu falante. Ao meu lado pude contar com essa grande mulher que é a Ricarda. Ela foi um dos grandes presentes que a gente ganhou no Partido e que eu ganhei na vida.”  


NOVO GOVERNO DE ITATIAIA


“Eu sempre sou muito otimista. Espero que o prefeito eleito faça um bom trabalho. Mas se não fizer estarei lá para cobrar, bater na porta do gabinete, não deixar passar o que estiver errado. Ele vem com a proposta de ser algo novo, de mudança. Mudança no grupo político nós sabemos que haverá, mas não necessariamente das propostas. Precisamos ficar em cima, se envolver, cobrar, levar propostas e projetos e sair com a esperança que serão realizados.  Não podemos nos acomodar. E quem votou nele tem todo direito de cobrar, até cobrar em dobro. Eu não votei e vou cobrar.”


DERROTAR BOLSONARO


“A derrota de Bolsonaro começou a partir dele próprio, de suas ações e falta delas. Foi um governo omisso, genocida. Ele se afundou. Precisamos mostrar para a população os melhores caminhos. Comparar a estrutura e a situação do Brasil de antes do golpe de 2016 e de hoje. Não dá para ser mais didático. Precisamos repensar mesmo uma política mais de esquerda, mais socialista, que pense mais os diretos do povo, que encontre os caminhos mais corretos da soberania nacional, sem estar lambendo botas. O Brasil era respeitado no passado. É muito triste ver a nossa atual imagem lá fora.”


FREIXO GOVERNADOR E LULA PRESIDENTE

“Precisamos mostrar que o melhor caminho para mudar é com Freixo no governo estadual e Lula na presidência.  Despertar a esperança no povo.  O povo está desesperançado não só em Itatiaia, já que eu rodo muito com teatro e vejo isso em todo o Brasil. Desde o governo Temer e só piorou com Bolsonaro. Muita gente foi iludida. Precisamos dar uma reviravolta e votar em pessoas realmente comprometidas com uma política social, mais justa, melhor distribuição de renda, reforma agrária, defesa dos territórios indígenas, que pare a devastação da natureza. Os retrocessos são enormes, mas pode ser revisto, pode ser melhorado com o nosso voto em outubro. Precisamos ter nossos programas e propostas de forma que o povo compreenda, em linguagem popular. Os projetos precisam ser conhecidos e valorizados na hora do voto, e não apenas as pessoas. “


Bomba, bomba!!

Fabíola anuncia sua entrada na equipe de acendedoras e acendedores do Pavio Curto


“Podem esperar boas ideias, inclusive estávamos conversando sobre a comemoração do aniversário do 1º ano do Pavio Curto 21, como aumentar o alcance das redes sociais, motivar os acendedores e acendedoras, divulgação do Projeto Semear, entre outras. Estou bastante empolgada com o projeto coletivo do Pavio, mesmo com minhas dificuldades de tempo em função do meu trabalho.  Mas pretendo contribuir bastante. Espero atender muito bem e estou ansiosa para começar o trabalho.”

 

Em tempo: Também passaram a integrar o grupo de ilustrador@as do Pavio Curto as artistas visuais Sara Raquel, de Itatiaia e Andy, de Juiz de Fora. Bem-vindas!!

 

 

 Fotos: Pedro Assis, Alvaro Britto, Tiago da Silveira e divulgação