segunda-feira, 15 de agosto de 2022

JUNTOS PELO BRASIL

Comitês populares se multiplicam por todo o Brasil 
Resende é destaque no Rio de Janeiro; lançamento em Mauá foi um sucesso


Por Alvaro Britto



Foto: Pedro Cardoso

Foi lançado dia 31 de julho, domingo e último dia do recesso escolar, o Comitê Popular de Luta Visconde de Mauá, linda região serrana de Resende, no Sul Fluminense, que também se estende aos municípios vizinhos de Itatiaia e Bocaina de Minas. Dezenas de pessoas – maioria de mulheres - resistiram ao frio e se reuniram com muito entusiasmo, emoção e compromisso de luta para mudar o Brasil e o estado do Rio de Janeiro.

Foto: Pedro Cardoso


Filiados a partidos da coligação que apoia Lula e Freixo, militantes de movimentos populares, vários ativistas progressistas e democratas sem filiação partidária, enfim cidadãs e cidadãos brasileiros moradores dos três municípios da região serrana que foram para as ruas dialogar com a população e apresentar as propostas da coligação Juntos pelo Rio e pelo Brasil. “O amor vai vencer o ódio”, foi uma das frases mais faladas do dia. A reportagem do Pavio Curto também esteve lá e registrou lindos momentos da atividade.

Foto: Alvaro


Animados com o sucesso do lançamento, os participantes do Comitê realizaram reunião de avaliação e já estão programando novas atividades em Visconde de Mauá. A prioridade é conversar com os moradores das diversas comunidades da região, visitando famílias, comércio, feiras livres e realizando banquinhas para distribuição de material. Maringá, Maromba, Lote 10, Ponte dos Cachorros e Campo Alegre estão agendadas. Na semana seguinte, já aconteceu banquinha em Maringá. Para o final de agosto, está programado um evento político-artístico-cultural- recreativo na Vila de Visconde de Mauá.


Foto: Maurício

Em Resende, estão em funcionamento mais cinco Comitês Populares de Luta, além de Visconde Mauá: Calçadão, em Campos Elíseos; do bairro Novo Surubi; Marielle Franco, na Grande Alegria; Feira Livre da Beira Rio; e Fazenda da Barra 3. Também já está em organização do Comitê do Grande Paraíso, cujo lançamento está previsto para breve.
O município, apesar da tradição conservadora, é um dos destaques do Rio de Janeiro, não só em quantidade de comitês organizados, mas principalmente pela regularidade de funcionamento e grande receptividade da população nas atividades. Uma das marcas registradas de seus comitês é o adesivo com a mãozinha vermelha em L, impresso através de vaquinha entre os militantes, que faz sucesso localmente mas também nas cidades vizinhas e em eventos fora da região. 



A formação de Comitês Populares de Luta começou em todo o Brasil em fevereiro. Atualmente são mais de 4.300 mil comitês, sendo 44 no exterior, organizados em comunidades, bairros, ruas, segmentos sociais, movimentos populares e também virtuais, prontos para reconstruir a esperança e resgatar a alegria de nosso povo nas redes e nas ruas. No Estado do Rio, já são 314 comitês cadastrados.
Se você tem interesse em participar desse movimento que está mudando a forma de fazer política no país e criar um comitê, a edição 15 do Pavio Curto publicou reportagem sobre os objetivos, estrutura e funcionamento, bem como dicas de atividades de um Comitê Popular de Luta.
Na atual edição, entrevistamos Eduardo Barros, um dos organizadores do Comitê de Visconde de Mauá; Ana Sória, Dalrea Silva, Ana Letícia, Marta Baltar, que atuam na organização de comitês de Resende; e Liana Costa, que começou a participar recentemente. O Pavio Curto também conversou com Adeilson Teles, coordenador do Comitê dos Comitês Populares de Luta do Rio de Janeiro. 

EDUARDO BARROS: “...o lançamento do Comitê de Visconde de Mauá superou as expectativas...foi uma atividade vibrante, onde todo o grupo demonstrou muita união, animação e garra."

Foto: Pedro Cardoso

Quem é Eduardo Barros?
Sou carioca da gema, nasci no Estácio, berço do samba, na região outrora denominada Pequena África, mas passei a infância e adolescência no Grajaú. Meus avós paternos são imigrantes portugueses e os maternos, do norte Fluminense, da cidade de Santa Maria Madalena. Meus pais se conheceram no Morro de São Carlos, onde meus avós se estabeleceram. Inclusive, neste lugar há uma capela construída pelo meu avô José de Barros, batizada de São José Operário em sua homenagem.
Dentre as traquinagens da infância, em plena ditadura, se destacava rechear, aleatoriamente, as caixas de correspondência dos vizinhos com cédulas eleitorais dos dois únicos partidos permitidos pelo regime militar, o MDB e a ARENA. Os primeiros lampejos de consciência política tiveram origem na disputa eleitora de 1982, quando Leonel Brizola saiu vitorioso, apesar da tentativa fraudar a apuração, no episódio que ficou conhecido como escândalo Proconsult. Naquela época a contabilização dos votos durava dias, por vezes semanas, com mesas de apuração que funcionavam no Grajaú Tênis Clube, onde, diariamente, eu ia acompanhar o andamento. Me impressionava aquela confusão, o que me faz ver como louco devaneio essa campanha contra as urnas eletrônicas patrocinada por Bolsonaro.
Sem dúvida, foi a campanha de 1989 o grande divisor de águas, a primeira eleição direta para presidente. Naquela ocasião, o PT era considerado mero coadjuvante na disputa e no início do período eleitoral Lula registrava apenas 5% da preferência dos eleitores. Fizemos uma campanha aguerrida, sem recursos financeiros, toda custeada com contribuição voluntária da militância, chegamos inclusive a vender panfletos, dá pra imaginar? Para surpresa de muitos, Lula superou Brizola às vésperas do primeiro turno, mas não foi capaz de fazer frente à avalanche de violências, mentiras e boatos patrocinada por Fernando Collor de Mello, sendo derrotado no segundo turno. Lamentavelmente, temos hoje novamente na presidência uma espécie de cópia mal feita do “caçador de marajás”.
Depois disso muitas águas rolaram, trabalhei três anos como responsável da Lojinha do PT do Diretório Regional RJ, ingressei e abandonei o curso de Ciências Sociais na UFF, onde militei no movimento estudantil. Tivemos de encarar o deserto neoliberal de FHC, oito anos de privatizações e esvaziamento da soberania nacional. Em 2002, me mudei para a região de Visconde de Mauá. Naquele momento, José Serra, candidato do PSDB, despontava como sucessor de Fernando Henrique, mas, felizmente Lula conquistou a presidência pela primeira vez, iniciando um ciclo virtuoso de inclusão social e desenvolvimento econômico sem paralelo na história do Brasil.
Desde 2007 fiz a opção de trabalhar na educação pública. Ingressei no magistério em 2013, depois de cursar Licenciatura em História na UNIRIO. Nos últimos dozes anos atuei como conselheiro da sociedade civil no Conselho Municipal de Educação e no CACS-FUNDEB, ora como representante dos funcionários, ora como representante dos professores. Fui eleito em 2018 coordenador geral do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Núcleo Itatiaia, onde atuei nos últimos quatro anos na luta por uma educação democrática, de qualidade e verdadeiramente inclusiva.


Vc está super empenhado na construção e incentivo a participação no comitê de Mauá. O que te motiva?
Dizem que ‘quem ama cuida’, não é mesmo? Adotei a região de Visconde de Mauá como meu lugar não foi à toa. Paisagens exuberantes, flora e fauna de rara diversidade e um riquíssimo manancial de recursos hídricos fazem da região um lugar estratégico tanto para a preservação dessa enorme biodiversidade como para iniciativas que combinem respeito ambiental, justiça social e desenvolvimento sustentável. Infelizmente, o atual governo resolveu ‘abrir a porteira e deixar passar a boiada’, sucateando os órgãos ambientais e desmobilizando as ações de fiscalização que visam coibir crimes ambientais. Portanto, é preciso reverter essa situação com uma ação conjunta do governo federal e demais entes federativos dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, garantindo recursos materiais e humanos para os órgãos responsáveis pela fiscalização, planejamento e orientação das iniciativas governamentais e privadas. Em primeiro lugar, a principal motivação para criação do Comitê Popular de Luta Visconde de Mauá é unir esforços para eleger Lula Presidente e Marcelo Freixo Governador, os únicos candidatos de efetivo compromisso com a justiça social e o desenvolvimento sustentável. Depois de eleitos, acompanhar e participar de suas gestões na região, atuando coletivamente para garantir que os resultados beneficiem de fato a maioria da população.


Como avalia o lançamento do Comitê de Mauá dia 31 e o que pensa para as próximas atividades?
Realmente, o lançamento do Comitê de Visconde de Mauá superou as expectativas. Conseguimos a adesão de moradores de todas as localidades da região (Lote 10, Vale do Pavão, Vale das Cruzes, Maringá e Maromba), dezenas de pessoas engajadas nessa jornada que se iniciou no último domingo e só vai parar no dia 2 de outubro. No ato do dia 31 havia representantes de todos os partidos que apoiam Lula e Freixo no estado do Rio de Janeiro (PT, PCdoB, PSOL, PSB, PV), além de diversas lideranças sindicais e comunitárias. Além de concorrido, foi uma atividade vibrante, onde todo o grupo demonstrou muita união, animação e garra para essa crucial disputa eleitoral que se aproxima. Os próximos passos do Comitê devem ser definidos em breve, porque estamos ainda na expectativa da liberação oficial da campanha eleitoral, escolha de candidatos e definição das logomarcas oficiais, mas posso adiantar a ideia de fazer um ato cultural, com apresentações musicais e atividades artísticas.


A que atribui o sucesso do Comitê numa região considerada bastante conservadora?
Não creio que o mais correto seja dizer que a região é essencialmente conservadora, afinal temos aqui descendentes de imigrantes europeus, alguns inclusive incriminados como “anarquistas” no início do século passado. Na década de 1970, Visconde de Mauá se notabilizou por ser um dos destinos preferidos dos hippies em busca de vida alternativa. Precisamos admitir que o conservadorismo é um traço geral e marcante da população brasileira, resultado previsível de uma democracia frágil, refém de acordos políticos da elite oligárquica, que nunca investiu satisfatoriamente na educação pública, gerando assim um baixo nível de consciência política do nosso povo. Apesar do patrono da educação brasileira ser Paulo Freire, ainda temos como tarefa urgente articular um plano nacional de alfabetização popular para uma maior conscientização da sociedade brasileira sobre a sua história e seus desafios futuros.


Como avalia a destacada participação das mulheres no Comitê?
Importante e previsível, afinal Lula e Marcelo Freixo incorporam em suas propostas o cuidado e a proteção da população mais humilde e as reivindicações históricas do movimento feminista. Além disso, todas as pesquisas eleitorais retratam, incontestavelmente, essa preferência majoritária das mulheres, dos jovens e da população de baixa renda por Lula Presidente e Marcelo Freixo Governador. Apesar do engajamento das mulheres, a desigualdade de gênero ainda é a tônica da nossa sociedade. Estão nas manchetes de jornais inúmeros casos diários de feminicídio e violência contra a mulher, que seguem também subrepresentadas no âmbito dos poderes legislativo, executivo e judiciário. Portanto, a participação feminina no nosso comitê é muito oportuna, afinal temos um longo caminho pela frente, o jogo eleitoral está só começando. É hora de arregaçar as mangas, botar o pé na estrada e esperançar dias melhores. Mãos à obra!


ANA MARIA SÓRIA: “...organizar um comitê é um exercício de cidadania. Exige dedicação, envolvimento comunitário, desejo político de ver as transformações necessárias acontecendo no país.”


Foto: Alvaro


Quem é Ana Maria Sória?
Sou natural de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, fronteira oeste com Argentina e Uruguai. Tenho 65 anos, portanto passei a infância e a juventude no período da ditadura militar. Me formei em 1980 em Medicina Veterinária na PUC de Uruguaiana, e logo depois comecei a atuar como comerciante no segmento de moda feminina e acessórios. Sou empreendedora e me reinvento a cada mudança política no país. Passei a ter contato com a militância política com o chamado de Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul. Ele foi uma potente referência política por muito tempo, e foi através dele que o Lula passou a ser reconhecido no estado. Na época passei a participar de campanhas eleitorais de rua, mas quando Collor foi eleito, e depois durante o governo FHC, fiquei afastada de qualquer atividade política. Vindo morar em Resende em 2000 já estava encantada com Lula, e mesmo não estando filiada a nenhum partido, fiz campanha por ele. Mais tarde me filiei ao PCdoB, participei da UBM, e estive atuando e militando em atividades de rua, eventos, manifestações, protestos, etc. Sou brizolista por estima, admiração a um grande homem e político nato, pois ele me deu a direção que é à esquerda. Já o PCdoB me proporcionou a formação política comunista marxista. Hoje a minha escolha de projeto político e ideológico é no Partido dos Trabalhadores, onde me sinto à vontade. Sou petista, lulista, socialista, pão com mortadela de coração. Atualmente estou muito focada na organização e atividade dos Comitês Populares de Luta.


Você está super empenhada na construção e incentivo à participação nos Comitês. O que te motiva?
Desde o impeachment, o golpe sofrido pela presidenta Dilma, eu me propus a me desafiar e envolver para combater a política neoliberal, que só retira direitos dos trabalhadores e aumenta a desigualdade social no país. Então, na campanha de 2018, já atuei militando em todos os lugares e espaços onde eu me encontrava, seja trabalhando ou fazendo campanha de fato. Eu era um comitê itinerante. Quando me filiei ao PT e começaram os cursos de formação, eu já tinha o propósito de me preparar para a campanha eleitoral, mas a minha maior motivação é proporcionar um futuro melhor para os nossos filhos e netos, para as futuras gerações, e ter um país livre e soberano. Sempre tive o desejo de participar mais ativamente da política como cidadã e dar a minha contribuição. Hoje minha contribuição através do trabalho dos comitês é promover engajamento político entre a população.


Resende tem se destacado pela organização de Comitês em várias regiões da cidade e pelo crescente apoio popular nas atividades de rua. A que atribui esse sucesso numa cidade considerada conservadora?
Eu considero que apesar de a cidade ser conservadora, as pessoas são cidadãs iguais a todos, e o sucesso e adesão do povo aos comitês é devido a termos propostas que vem de encontro aos anseios das pessoas que estão sendo atingidas dramaticamente por uma gestão que só teve atuação contra o povo brasileiro. Trazemos esperança de mudança com projetos sociais que atenderão a todos. Isso é o que traz as pessoas para as conversas dos comitês, e é dessa maneira que vejo o sucesso que estamos tendo nas ruas.


Como avalia a destacada participação das mulheres nos Comitês?
A luta das mulheres por espaço, respeito, autonomia, direitos e protagonismo vem crescendo, e neste momento de tentativas de impedir, retirar e depreciar a atuação das mulheres na política e na sociedade, todas nos unimos na resistência, defendendo nossas causas e ocupando espaços. Nos comitês as mulheres desempenham o papel de mobilizar a sociedade ao redor de todas essas pautas que comentei, e serem exemplos para as outras se juntarem a nós. Sempre acreditei que empoderamento não é só uma palavra em um cartaz, mas sim a prática de ajudar outras mulheres a assumir seu papel na luta por todas. Uma mulher participar de um comitê de lutas é então um ato de resistência, em aderir a um espaço coletivo onde todas podem exercer com autonomia seu papel em uma história de transformação.


Quais atividades podem ser realizadas pelos Comitês?
As atividades são muitas e bem diversificadas, mas o que eu destacaria é a possibilidade de realizar atividades que permitam a troca de ideias entre as pessoas. Um comitê é uma construção coletiva onde podem ser feitas atividades culturais, com debates, atividades artísticas, música, dança, filmes, etc. Temos as atividades de rua como passeatas, panfletagem, produção de cartazes, e tudo que envolva compartilhar e trocar. Também pode haver atividades por segmento de interesse coletivo, como por exemplo uma horta comunitária, plantio de árvores, doação de livros, pinturas, etc. A gente precisa ter muita criatividade para fazer acontecer essas atividades e ir construindo pouco a pouco. Cada um pode trazer novas ideias e propostas, e assim são construídos os comitês. Além da criatividade, temos que ter objetivo, que hoje é a eleição da chapa Lula-Alckmin, que vai nos trazer grandes mudanças e a reconstrução do Brasil.


Como organizar um CPL em Resende?
Antes de falar da parte técnica, organizar um comitê é um exercício de cidadania. Exige dedicação, envolvimento comunitário, desejo político de ver as transformações necessárias acontecendo no país. Envolve a capacidade de ajudar pessoas a se organizarem para exercer sua cidadania em conjunto, na rua, aos olhos do público, dialogando com todos. Demanda sim tempo, mas com o andar do trabalho, quanto mais os membros se envolvem, melhor distribuído fica o trabalho. Agora para a parte técnica, sobre cadastro do comitê na plataforma e como mobilizar sua comunidade, recomendo a leitura da cartilha de criação de comitês, que pode ser acessado pelo link.


O que você espera que pode mudar na atuação dos CPL com o início oficial da campanha dia 16 de agosto?
Eu espero que a partir do início da campanha se organizem mais comitês na cidade, que tenhamos mais companheiras e companheiros nas atividades, porque de fato vamos precisar de todos e todas. A campanha é muito rápida e precisa de dinamismo, não podemos perder oportunidades. Precisamos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Gostaria de encerrar deixando um chamado: “Venham se juntar aos comitês”. #vamosjuntospelobrasil


DALREA SILVA: “Esperamos que novas lideranças surjam desses comitês populares de luta, já passou da hora de assumirmos o protagonismo nos rumos de um mundo bom e justo para todos.


Foto: Divulgação


Quem é Dalrea Maria da Silva?
Sou formada em economia, aposentada da indústria onde trabalhei na área de custos até maio desse ano. Milha filiação ao PT foi adiada até 2018, quando me senti na obrigação de me juntar ao partido pelo qual sempre tive simpatia.


Vc está super empenhada na construção e incentivo à participação nos Comitês. O que te motiva?
O que me motiva na construção e incentivo á participação nos comitês é essa característica popular e espontânea, poder participar dessa grande virada de volta do poder do povo nas mãos do povo.


Resende tem se destacado pela organização de Comitês em várias regiões da cidade e pelo crescente apoio popular nas atividades de rua. A que atribui esse sucesso numa cidade considerada conservadora?
Apesar de Resende ser considerada uma cidade conservadora, observamos em conversa com o povo, que na verdade Resende tem uma falsa elite conservadora e um povo trabalhador ansioso por trabalho digno, por melhores preços, por cultura, diversão e arte e que já não aguenta mais os absurdos do governo federal. Encontrar a esquerda nas ruas tem sido motivo de alegria para muita gente.


Como pretende organizar o Comitê do Paraíso?
Estamos pensando em fazer um evento conjunto num local de grande circulação e aproveitar a oportunidade para incentivar que outras lideranças do bairro criem seus comitês, de rua, de afinidade, de profissão entre as tantas opções de comitês prevista no Nova Primavera.


Quais atividades pensa pra ele?
Nesse primeiro comitê geral seria repetir o que temos feito nos comitês, com varais, cartazes e adesivos. A partir do início da companha pretendo manter uma mesinha na minha calçada para conversa com os vizinhos, talvez uma garrafa de café e/ um bolo, já que estarei na calçada do bairro onde nasci e vivi por toda a vida.


Como avalia a destacada participação das mulheres nos Comitês?
A participação das mulheres na formação dos comitês é potente, não só nos nossos comitês de Resende, mas em toda a jornada de formação do Nova Primavera, a presença das mulheres é notável. Esperamos que novas lideranças surjam desses comitês populares de luta, já passou da hora de assumirmos o protagonismo nos rumos de um mundo bom e justo para todos.


ANA LETÍCIA: “Os comitês são um sucesso, pelo trabalho dedicado, e sempre bem preparado com capricho e numa linguagem que todos possam entender...”



Foto: Divulgação

Quem é Ana Letícia?
Sou advogada e filiada ao PT, nascida em Resende-RJ.


Você está empenhada na construção e incentivo da participação nos comitês. O que te motiva?
Sim, tanto participo dos comitês em Resende, como criei o Comitê de Luta Popular- Feira Beira Rio. A minha motivação é política. Sempre fui uma pessoa progressista e procurei votar sempre nos candidatos de esquerda, contudo, em 2016 houve um golpe contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, que sofreu um impeachment sem crime de responsabilidade e logo em 2018 o segundo golpe que culminou com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para favorecer a vitória do atual presidente da República, que nomeou o juiz de 1º grau que condenou Lula como Ministro da Justiça. A partir de então decidi ingressar na política, pois não cabia mais ficar militando somente nas redes sociais e reclamando da vida, para lutar por aquilo que acreditava. A conjuntura apresentada na época, foi piorando cada dia mais. E hoje temos esta grande ferramenta que é o CPL – Comitê Popular de Luta. Assim sendo, como gosto muito da militância na rua, panfletando, conversando com o povo, marcando o nosso lugar político, criei o CPL – Feira Beira Rio na Cidade de Resende-RJ.


Resende tem se destacado pela organização de comitês em várias regiões da cidade e pelo crescente apoio popular nas atividades de rua. A que atribui esse sucesso numa cidade considerada bastante conservadora?
Sim, é verdade. Foram criados diversos Comitês de Luta na nossa cidade e o apoio dos populares que passam pela rua e dos simpatizantes só aumenta, apesar do grande conservadorismo da cidade de Resende.
Atribuo o sucesso dos comitês em nossa cidade à dedicação de um grupo de pessoas que sempre esteve e estará nas ruas, protestando por um país melhor. Os comitês são um sucesso, pelo trabalho dedicado, e sempre bem preparado com capricho e numa linguagem que todos possam entender, sempre havendo um tema a ser tratado com o povo, isto acontece em todo o Brasil. Aqui em Resende estamos presentes, seja nas ruas do centro, nas periferias, e também nos distritos da cidade. Acredito que houve um grande avanço e sucesso dos comitês, por causa da crise e do caos que se encontra o país. E como os comitês propõe uma discussão justamente dos assuntos que estão atingindo ao povo não existe conservadorismo que resista!


Como está receptividade da população às atividades do Comitê da Feira Beira Rio?
A receptividade dos nossos Comitês em geral está ótima. No meu Comitê que é o CPL Feira Beira Rio, vem aumentando a cada semana, e eu particularmente estou muito feliz com o resultado. Eu sinto que o povo está muito entristecido com toda a desordem que se encontra o país, principalmente com os problemas que atingem as pessoas mais pobres como a violência, a inflação, o desemprego, e o ataque ao nosso maior patrimônio que são nossas reservas florestais, para extração de minério, pesca ilegal e criação de gado, o que ocasiona desastres ecológicos que atingem também os mais necessitados. Hoje em dia as pessoas da cidade estão mais soltas, com vontade de conversar, reclamam principalmente da carestia dos alimentos, do combustível, do desemprego, da violência contra o povo, e do atual governo.


Como avalia a destacada participação das mulheres nos comitês?
Eu avalio a participação das mulheres nos Comitês com grande orgulho. As mulheres são as grandes guerreiras neste país e apesar de serem tolhidas em toda a história brasileira, sempre fizeram a diferença. Em Resende as mulheres participam sim em maior número nos Comitês, o que corrobora para o grande sucesso e brilhantismo dos CPLs em Resende. Todas sempre corajosas participando com muito ânimo e alegria. E acho que esta célula que começa nos bairros de centro ou periferia, nas feiras, nos distritos da cidade é o grande começo, para se multiplicarem em todas as cidades do Brasil, continuando na eleição 2022 e também após a eleição. Já marcamos nosso lugar com a nossa luta e continuaremos para sempre, com outras nos sucedendo, mas nunca sem parar a luta.


MARTA BALTAR: “...já passou da hora de termos mais mulheres na política.”



Foto: Divulgação


Quem é Marta Fernanda Baltar?
Tenho 61 anos e sou moradora de Resende há dez anos, vinda de São Paulo. Trabalhei 20 anos em contas a pagar e oito como técnica de enfermagem. Sou separada e sem filhos.


Você está empenhada na construção e incentivo da participação nos comitês. O que te motiva?
Tenho ajudado como sei e posso, acompanho a trajetória do Lula desde que ele era sindicalista. Em 1989 quase perdi o emprego por dizer que iria votar nele. Sou nova na militância por falta de oportunidade. Estou engatinhando, aprendendo.


Resende tem se destacado pela organização de comitês em várias regiões da cidade e pelo crescente apoio popular nas atividades de rua. A que atribui esse sucesso numa cidade considerada bastante conservadora?
A decepção com Bolsonaro&Cia e a lembrança dos governos Lula e Dilma.


Como está receptividade da população da Grande Alegria às atividades do Comitê Marielle Franco?
São bastante receptivos e aceitando muito bem.


Como avalia a destacada participação das mulheres nos comitês?

Na verdade em questão de economia doméstica quem domina somos nós, e também já passou da hora de termos mais mulheres na política.


LIANA COSTA: “Me senti muito bem acolhida. Temos o mesmo propósito de tentar salvar o Brasil dessa condição vergonhosa e humilhante.”



Foto: Divulgação


Quem é Liana Costa?
Sou carioca, e moro há 12 anos em Resende


Depois de você conhecer o Comitê da Feira da Beira Rio, passou a manhã de sábado, dia 30 de julho, na atividade do Comitê do Calçadão super animada, titando fotos, conversando. O que te motiva a participar desse movimento?
O que me motivou foi ver a situação degradante a que o Brasil chegou...
Lamentável 😞 Hoje mesmo vi no deck da Beira Rio, seres humanos morando na rua!
Perto do Supermercado Royal também...Nunca pensei em ver isso numa cidade pequena como.Resende. Não penso só em mim, mas na população como um todo. O comércio fraquíssimo
Os comerciantes também numa situação crítica. Enfim, o Brasil estagnado!


Como se sentiu ao ser recebida com tanto carinho pela militância? Já se sente "em casa"?
Me senti muito bem acolhida. Temos o mesmo propósito de tentar salvar o Brasil dessa condição vergonhosa e humilhante.


Como avalia a destacada participação das mulheres nos comitês?
Mulheres são determinadas e ativas!


ADEILSON TELES: “A pauta eleitoral, certamente, será preponderante nas atividades dos Comitês Populares de Luta a partir de 16 de agosto.”


Foto: Nando Neves


Quem é Adeilson Teles?
Sou historiador e coordenador do Comitê dos Comitês Populares de Luta do Rio de Janeiro.


Qual a importância dos CPLs?
Os Comitês Populares de Luta fazem parte de um movimento amplo que busca engajar diferentes setores da sociedade para mudar o Brasil, retomando o rumo do desenvolvimento sustentável para um país soberano e justo.


Como nasceu a proposta de criar o Comitê dos Comitês RJ?
A partir de uma demanda nacional, sentimos a necessidade de um espaço no Rio que centralizasse os anseios de ideias e de distribuição de material, respeitando a autonomia de cada Comitê.


Quantos Comitês já estão cadastrados no Comitê dos Comitês no RJ?
No Estado, já são 314 Comitês cadastrados.


Como está a organização dos Comitês no interior do RJ? Já existem na maioria dos municípios?
Sim, a maioria dos 92 municípios do Estado já contam com Comitês Populares de Luta. Sendo que algumas cidades contam com mais de um comitê.


Tem informação de quantos CPL já estão organizados no Brasil?
Estão organizados 4.300 comitês, sendo 44 no exterior.


O que muda na atuação dos CPL com o início oficial da campanha dia 16 de agosto?
A pauta eleitoral, certamente, será preponderante nas atividades dos Comitês Populares de Luta a partir de 16 de agosto. No entanto, passadas as eleições, os Comitês continuarão tendo um papel a cumprir para garantir os avanços com nossas vitórias eleitorais.


domingo, 14 de agosto de 2022

MEMÓRIA REGIONAL

Documentário sobre estações ferroviárias do Vale do Paraíba terá estreia  internacional 

Por Alvaro Britto

Com destaque para Barra do Piraí, as estações ferroviárias do Vale do Paraíba são o tema do primeiro longa metragem produzido pela Quiprocó Filmes e com roteiro e  direção de Fernando Souza e Gabriel Barbosa: Entroncamentos – vida e memória nas estações ferroviárias do Vale do Paraíba. A estreia mundial do documentário acontecerá no Festival Internacional de Buenos Aires, em setembro de 2022. Ele é o único festival de cinema da América Latina realizado anualmente na Europa e na América do Sul. Este ano, o festival será em Marbella, na Espanha, em formato presencial e virtual.



Segundo os diretores, a narrativa do filme é construída a partir de entrevistas e vasto material de arquivo de cine-jornais, fotografias, mapas e litogravuras, que contam a história da ascensão e declínio do transporte ferroviário no maior entroncamento da América Latina, no Vale do Paraíba fluminense. “Em meio a esses registros heterogêneos e às ruínas das estações ferroviárias, a narrativa é costurada pela experiência dos personagens, suas reminiscências de relações de amizade, afetos, paixões e tensões forjadas nos trilhos do trem”, explicaram. 


Embora não se detenha sobre a história específica de cada uma delas, o filme retrata diversas estações ferroviárias da região. Aquelas que se localizam nas regiões rurais e mais afastadas do grande centro sofreram um maior impacto do abandono em consequência do declínio do transporte ferroviário, tais como Engenheiro Gurgel, Morsing, Ipiabas, Barão de Vassouras, Ipiranga e Sebastião de Lacerda, entre outras. 



Escravidão

Questionados pelo Pavio Curto sobre a relação das ferrovias com o perfil escravocrata da região, que se prolongou por um bom tempo mesmo após a Lei Áurea, os autores esclareceram que a ferrovia no Brasil, sobretudo no Vale do Paraíba, foi concebida para atender à produção de café, que era baseada na exploração do trabalho escravo. O Rio de Janeiro foi o maior porto de desembarque de pessoas escravizadas do Atlântico Sul durante séculos, e grande parte dessas pessoas foram levadas para o trabalho forçado nas plantações de café. 

“Sem dúvida, contar a história da ferrovia também é contar a história dos horrores da escravidão e de como a demografia dessa região é caracterizada de uma maioria de pessoas negras, que ocuparam centralidade fundamental na construção da ferrovia e das cidades encravadas no Vale do Paraíba. Trata-se de uma história que em geral sofre com a violência do silenciamento e apagamento”, afirmou Fernando Sousa.  

Por outro lado, segundo os autores, “as culturas da diáspora negra constituem a formação social e cultural da região a partir da religiosidade afro-brasileira, do jongo, do caxambu, uma musicalidade que marcou de forma definitiva o samba urbano carioca. Por isso, optamos por recorrer às músicas de Clementina de Jesus para compor a trilha sonora do filme, reafirmando a contribuição da população negra na construção de um universo de significados estéticos sofisticados que caracterizam o Vale do Paraíba”. A trilha sonora do filme também conta com músicas do compositor e instrumentista Abel Ferreira.  

Trabalhadores

As histórias dos personagens envolvidos diretamente com as estações e o vasto material de arquivo são o fio condutor do documentário. A Estrada de Ferro D. Pedro II, uma das primeiras linhas férreas do Brasil, tinha como objetivo inicial escoar a produção de café do Vale do Paraíba e, posteriormente, contribuir para  estruturar a industrialização da região no século XX. Assim, diversas cidades nasceram ao longo do seu traçado, consolidando um estilo de vida intimamente ligado ao trem e às estações. 

- Muitos trabalhadores dessas estações – hoje sucateadas e fora de funcionamento – ainda moram no seu entorno, o que nos permite vislumbrar uma forte relação ainda não rompida com esses lugares, que são centrais para a formação social da região do Vale do Paraíba e do Estado do Rio de Janeiro -  informou Gabriel Barbosa.

 Sobre a situação atual dos ex-ferroviários, os autores identificaram que ela varia de acordo com as funções que cada um exercia na estrutura da empresa: maquinista, manobreiro, chefe-de-estação, etc. “Apesar de compartilharem de um sentimento de pertencimento ao trabalho ferroviário, os conflitos e desigualdades entre os mesmos fazia parte do cotidiano. Por isso, as condições de vida dos trabalhadores variavam e continuam a variar de acordo com o posto que ocupavam quando estavam na ativa”, explicaram. 

Incentivo

Com a finalização do filme, a Quiprocó Filmes aprovou um projeto de Circulação Estadual de Programação na Lei Estadual de Incentivo à Cultura (Lei do ICMS) para a captação de recursos a fim de viabilizar um circuito de exibições no interior fluminense. Os diretores planejam uma estreia em Barra do Piraí, em março de 2023, quando será comemorado o aniversário de 133 anos da cidade, que se confunde com a história de construção das linhas ferroviárias da região do Vale do Paraíba. Também pretendem lançar o documentário em Volta Redonda e outras cidades da região, como Vassouras, Valença, Barra Mansa e outras que possuem sua história ligada à ferrovia.

“Entroncamentos: vida e memória nas estações ferroviárias do Vale do Paraíba” é apresentado pelo Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc. O primeiro longa-metragem da dupla de cineastas contou ainda com recursos de um financiamento coletivo, o apoio da Casa Fluminense, da Fundação Heinrich Böll e do Centro Universitário Geraldo Di Biase.

Conheça os diretores e a produtora do documentário 


Fernando Sousa é mestre em Ciências Sociais pela UERJ. Ele assina a pesquisa e o argumento do curta Manobreiro de Água e estreia como diretor e roteirista com o filme   Intolerâncias da Fé, produzido para a faixa Sala de Notícias do Canal Futura. Em 2016, cria a Quiprocó Filmes com seu sócio Gabriel Barbosa,  produtora em que assina a direção e roteiro dos documentários Nosso Sagrado, Nossos Mortos Têm Voz, Memórias de Aço, Respeita Nosso Sagrado e Entroncamentos, exibidos e premiados em festivais nacionais e internacionais, destacando-se o prêmio de melhor documentário do 42º Encontro da Associação Nacional de Pós Graduação em Ciências Sociais, vencendo o 3º Concurso de Documentários da TV Câmara e recebendo menções honrosas no 9º Festival Internacional de Cine Político de Buenos Aires e no 12º Festival Visões Periféricas. Pela Quiprocó Filmes, atua como diretor e produtor executivo em projetos que abordam temáticas raciais, religiosas e de direito à memória.

Gabriel Barbosa é doutor e mestre em Antropologia pela UFF e graduado em Ciências Sociais pela UFRJ. Em 2016, fundou a produtora Quiprocó Filmes ao lado de seu sócio, Fernando Sousa. Assina a direção, argumento e roteiro dos documentários "Nosso Sagrado", "Nossos Mortos Têm Voz", "Memórias de Aço", "Respeita Nosso Sagrado" e "Entroncamentos", que foram exibidos e premiados em diversos festivais nacionais e internacionais, destacando-se o prêmio de melhor documentário do 42º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós Graduação em Ciências Sociais, do Cine Tamoio - Festival de Cinema de São Gonçalo, vencendo o 3º Concurso de Documentários da TV Câmara e recebendo menções honrosas no 9º Festival Internacional de Cine Político de Buenos Aires e no 12º Festival Visões Periféricas. Atua no desenvolvimento e produção de projetos cinematográficos que abordam a temática racial, religiosidades e direito à memória.

Fundada em 2016 no Rio de Janeiro por Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, a Quiprocó Filmes é uma produtora audiovisual que pretende provocar mudanças através de um olhar inquieto, com obras para cinema, tv, streaming, publicidade e instituições. No ano de 2017,  lançou o média-metragem Nosso Sagrado, em 2018, o Nossos Mortos Têm Voz, ambos premiados e selecionados para festivais dentro e fora do Brasil. Em 2021, produziu os curtas-metragens Memórias de Aço, Respeita Nosso Sagrado e Balaio de Omolú. Em 2022, realizará o lançamento do primeiro longa-metragem da dupla de cineastas Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, percorrendo um circuito de festivais nacionais e internacionais. Com parcerias em projetos com o Museu da República, Ilê Omolu Oxum, Fórum Grita Baixada, Casa Fluminense, Fundo Brasil de Direitos Humanos, Fundação Heinrich Böll Brasil, British Council e Visão Mundial Brasil, vem ganhando espaço dentre as produções nacionais. 


Reportagem: Alvaro Britto 

Fotos: Davi Maciel / Divulgação Quiprocó Filmes