quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Galeria de fotos da luta do MST

 O MST está comemorando 40 anos de luta em 2024.

O Pavio Curto saúda o principal movimento social do Brasil e o homenageia com uma galeria de algumas fotos da sua história de lutas pela Reforma Agrária e Justiça Social.

Vida longa ao MST!!

 

Foto 1: Mobilização pela Reforma Agrária na Constituinte – DF, 1988 – Douglas Mansur



Foto 2:  Massacre Eldorado de Carajás – PA, 1996 – João Roberto Ripper



Foto 3: Ocupação Fazenda Giacomet – PR, 1996 – Arquivo MST



Foto 4: Marcha Nacional por Justiça, Emprego e Reforma Agrária – DF, 1997 – Arquivo MST



Foto 5: Ocupação de Ferrovia – PA, 2007 - Arquivo MST



Foto 6: 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária – SP, 2015 – Joka Madruga



Foto 7 – MST na Pandemia de Covid 19 – Quatis (RJ), 2020 – Arquivo MST



Foto 8 – MST no Natal Sem Fome – CE, 2021 – Arquivo MST



Foto 9 – Marcha das Mulheres Camponesas – AL, 2023 – Denanisson Araújo



Foto 10 – Posse Popular da deputada estadual Marina do MST – RJ, 2023 – Arquivo do MST



Ato em Campos dos Goytacazes abre campanha 60 anos do golpe – Ditadura Nunca Mais

 

Foto 1: Caminhada até os fornos da Usina Cambahyba. 


Alvaro Britto*

 

Local onde foram incinerados os corpos de 12 presos políticos pela Ditadura Militar (1964/1985), a extinta Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, sediou no dia 6 de dezembro o ato de abertura de uma série de manifestações de protesto para marcar os 60 anos do golpe militar de abril de 1964. Na ocasião também foi reivindicada a criação do Memorial Cambahyba Ditadura Nunca Mais, por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Reforma Agrária.

Foto 2: Cartaz com fotos de 12 presos políticos que tiveram seus corpos incinerados nos fornos da Usina.


Nas terras da antiga Usina foi criado pelo presidente Lula em agosto de 2023 o assentamento Cícero Guedes, cujo nome homenageia o militante que se libertou do trabalho análogo à escravidão em lavouras de cana-de-açúcar na infância, em Alagoas, e migrou para Campos. Aprendeu a ler aos 40 anos, integrou o MST, na virada do século foi oficializado no assentamento Zumbi dos Palmares, na área da extinta Usina São João, também no município. Cícero foi assassinado a tiros em 2013.

A mobilização contou com centenas de pessoas, entre famílias assentadas da Reforma Agrária das regiões Norte e Noroeste Fluminense, representantes de movimentos sociais, entidades e coletivos de direitos humanos, universidades e instituições governamentais, como o Incra e os Ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e dos Direitos Humanos e Cidadania (MSHC), além de familiares de presos políticos torturados e mortos das prisões da Ditadura Militar.

 

Foto 3: Familiares de Fernando Santa Cruz


Estavam presentes familiares das 12 pessoas que foram incineradas naquele local – Ana Rosa Kucinski Silva (ALN), Armando Teixeira Frutuoso (PCdoB), David Capistrano (PCB), Eduardo Collier Filho (APML), Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira (APML), João Batista Rita Pereira (VPR), João Massena Melo (PCB), Joaquim Pires Cerveira (FLN), José Roman (PCB), Luiz Inácio Maranhão Filho (PCB), Thomáz Antônio da Silva Meirelles Neto (ALN) e Wilson Silva (ALN). 

Foto 4: Familiares de David Capistrano


Brasil sem ódio

O chefe da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do MDHC, Nilmário Miranda, destacou que o momento rememora um fato extremamente vergonhoso para o Brasil, por isso a importância de lembrar para que as coisas nunca mais se repitam. “Esse dia também simboliza a renovação da esperança de construir um Brasil livre do ódio, do preconceito e da discriminação por orientação religiosa”, afirmou.

Já o coordenador-geral de Memória e Verdade e Apoio à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, o também poeta Hamilton Pereira, que passou a usar o pseudônimo Pedro Tierra para conseguir enviar seus poemas para fora do presídio na ditadura, visivelmente emocionado, doou três livros de sua autoria ao MST, um deles através do jovem Matheus Guedes, filho de Cícero Guedes, da coordenação do assentamento Zumbi dos Palmares.

Foto 5: Pedro Tierra entrega livro para o jovem assentado Matheus Guedes.


Reforma Agrária

A deputada estadual Marina do MST (PT/RJ) participou das atividades e numa fala emocionada relembrou a história do local, do MST e sua própria trajetória nas terras da Usina Cambahyba. A parlamentar ressaltou a importância das lutas políticas e institucionais caminharem juntas em defesa da justiça social.

"O nosso mandato, junto com outros companheiros da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) vamos continuar a luta para transformar esse local que foi um local da morte em um local da vida, vamos continuar a luta para transformar esse local que foi de exploração dos trabalhadores em cooperação, em transformar esse local que foi de degradação ambiental em agroflorestas produtivas, nos comprometemos em transformar esse local que foi da fome e exploração num local de produção de comida saudável, da agroecologia, em fazer esse local em defesa da vida das pessoas", disse Marina durante o ato.

Foto 6: Marina do MST discursando


A criação do assentamento Cícero Guedes é uma grande conquista dos trabalhadores sem-terra e emblemática da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil. O resgate da memória dos presos políticos da ditadura militar é o nosso compromisso de que eles não morreram em vão. Que prosseguiremos na luta por justiça social, por reforma agrária e pelos direitos do povo preto”, discursou a superintendente regional do Incra/RJ, Maria Lúcia de Pontes.

Em sua fala, o superintendente estadual do MDA/RJ, Victor Tinoco, lembrou o papel essencial da Comissão Nacional da Verdade para a investigação e revelação dos crimes da ditadura militar, entre eles a incineração dos corpos de presos políticos nos fornos da Usina Cambahyba. “Esse é um legado fundamental da mobilização da sociedade civil mas também do governo da ex-presidente Dilma Rousseff”, ressaltou.

Trabalho escravo

Foto 7: Ana Paula, da coordenação do assentamento Cícero Guedes


“O ato foi histórico e importante para dar visibilidade e fortalecer a luta por justiça das famílias dos militantes que tiveram seus corpos incinerados nos fornos da Cambahyba. E também a reforma agrária, já que várias famílias do acampamento Cícero Guedes são de trabalhadores rurais que sofreram condições de escravidão na Usina, que agora poderão plantar e colher em uma terra onde foram explorados e que agora será deles”, declarou Ana Paula Saraiva, militante do MST e coordenadora do acampamento Cícero Guedes.  

Foto 8: O jovem José Carlos, do MST, coordenando o ato com Nilmário Miranda, Nadine Borges e Marina do MST. 


José Carlos dos Santos, 21 anos, estudante do 7º período de Jornalismo, é morador do assentamento Dandara dos Palmares, localizado em Campos dos Goytacazes, desde os três anos de idade. Membro da Direção Estadual do MST, Zé, como é conhecido, foi um dos coordenadores do ato no assentamento Cícero Guedes. “Fiquei muito emocionado, ainda mais quando me pediram para ler a carta de um dos familiares. A mensagem que a carta trouxe me marcou bastante, foi realmente impactante estar ali naquele momento”, revelou o jovem assentado.

Foto 9: No ato: Marina do MST, Adriana do STR de Itaperuna, Maria Lúcia do Incra e Alvaro do Pavio Curto.


Próximas atividades

Outros eventos serão realizados até o dia 1º de abril de 2024, quando partirá do Rio de Janeiro uma grande Marcha Pela Democracia rumo à cidade mineira de Juiz de Fora. Dela, há 60 anos, partiram as tropas da então 4ª Região Militar, com destino ao Rio para derrubar o governo do presidente João Goulart, sob o comando do general Olympio Mourão Filho, em conluio com o então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, e empresários de direita da época. 

No próximo dia 13 de março, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) realizará, às 16 horas, no seu auditório, no Centro do Rio, um Ato Comemorativo dos 60 anos do histórico Comício da Central do Brasil. O Pavio Curto também estará lá!!

Foto 10: Jantar após o ato: Pavio Curto com Marina do MST e assessores, Incra e militantes do MST. 

 

* Jornalista do Pavio Curto

Fotos: Alvaro Britto

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

MST 40 anos: carta compromisso com a luta e o povo brasileiro

Carta apresenta a leitura do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no atual momento político e sinaliza as lutas para o próximo período. Documento foi apresentado durante o Ato Político em Comemoração aos 40 anos da organização, realizado dia 27 de janeiro na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).

“Reafirmamos o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos até que os males do latifúndio sejam extintos de nossa sociedade e com ele toda opressão, miséria, destruição ambiental e fome,” destacou trecho da carta. O material aponta ainda os desafios do Movimento na defesa dos bens da natureza e na organização para o 7º Congresso Nacional do MST, que será realizado em julho.

Foto 1: Priscila Ramos


Confira a carta na íntegra:

 

CARTA ABERTA DO COMPROMISSO DO MST COM A LUTA E O POVO BRASILEIRO

Quarenta anos depois que mulheres e homens, trabalhadores rurais, tiveram a ousadia e a coragem de desafiar o latifúndio e criar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, nós, integrantes da Coordenação Nacional do MST, nos reunimos em nossa Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).

Nos reunimos para celebrar nossa ancestralidade indígena, africana e camponesa de tantas lutas históricas do povo brasileiro e para celebrar a longevidade da nossa organização.

Nos reunimos para celebrar a conquista da terra. Somos 450 mil famílias assentadas e mais de 65 mil famílias acampadas. Nos territórios libertados das cercas da ignorância e da miséria, organizamos centenas de cooperativas, agroindústrias e escolas do campo. Celebramos a dignidade dos que agora produzem alimentos e protegem a casa comum, nossa mãe Terra.

É esta dignidade e altivez que inspiram a luta pela Reforma Agrária Popular a enfrentar a violência das milícias rurais e a lentidão do Estado, sem recuar na firme decisão de fazer cumprir a Constituição brasileira: a terra deve ser democratizada para cumprir sua função social de produzir vida digna à população camponesa, alimentos saudáveis e preservar a natureza.



Foto 2: Janaina Santos


Celebramos a organização dos trabalhadores e trabalhadoras que enfrentaram com coragem e determinação o golpe de 2016, os retrocessos dos direitos e o desprezo pela humanidade do governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19. Com resistência ativa nos acampamentos e assentamentos, construindo a Reforma Agrária Popular, priorizamos a vida, fortalecemos as ações de solidariedade e as mobilizações populares em todo o país.

Esta organização foi determinante para eleger o Presidente Lula e sua vitória eleitoral foi um marco importante na luta internacional contra a ofensiva da extrema-direita. Construímos e participamos desta conquista. E, apoiamos todas as iniciativas do governo para enfrentar a fome, a miséria, o desemprego e para reindustrializar o país sobre novas bases sustentáveis. O Presidente Lula tem diante de si muitos desafios e obstáculos e sabe que somente a mobilização e a participação popular são capazes de realizar as transformações estruturais que nossa sociedade tanto precisa.

Nestas quatro décadas, enfrentamos inúmeras tentativas de criminalizar a luta social. Nenhuma organização sofreu tantas ameaças de Comissões de Parlamentares pelas forças conservadoras. Celebramos e agradecemos a solidariedade que recebemos diante da tentativa fracassada da bancada ruralista e da extrema-direita em nos criminalizar com a abertura de uma CPI contra o MST, que também buscou intimidar o governo Lula.

Nos preocupamos com o acirramento dos conflitos no campo, marcado pela criminalização e pelos assassinatos de lideranças quilombolas, indígenas e camponeses Sem Terra por todo o país.

Foto 3: Janaina Santos


Iniciativas como “Invasão Zero” estimulam a escalada de violência das milícias de Latifundiários e setores do Agronegócio em defesa do atraso e de um dos maiores índices de concentração de terras no mundo. Nos solidarizamos aos familiares dos que tombaram na luta pela terra, na defesa dos bens da natureza e reconhecimento de seus territórios.

Promotora da morte, a Bancada Ruralista aprovou a liberação desenfreada do uso dos agrotóxicos, atacou as terras indígenas, despejou dinheiro em falsas soluções para a crise climática e financiou a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023.

Nos preocupamos que o primeiro ano do governo Lula terminou com o mesmo número de famílias acampadas do início do seu mandato. As possibilidades para resolver esse passivo são muitas, desde que haja determinação do governo em enfrentar a grilagem e a concentração agrária que historicamente marcou a estrutura fundiária brasileira.

Isso exige ainda um orçamento para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e para o INCRA que seja capaz de retomar as políticas públicas para a reforma agrária em 2024, e que tenha condições reais de estruturar e fortalecer a organização daqueles e daquelas que produzem alimentos saudáveis, zelam da natureza e promovem justiça social.

Foto 4: Janaina Santos


A Reforma Agrária é uma ação estruturante e estratégica para combater diversas mazelas econômicas e sociais em nosso país, como a destruição da natureza, o desmatamento e o garimpo ilegal, a fome que assola a vida de milhões de pessoas, a concentração da renda e poder.

Por isso, nos comprometemos em seguir lutando pela democratização do acesso à terra, zelando pelos bens da natureza e pelas garantias dos direitos dos povos e comunidades do campo, das águas e das florestas em exercer a autonomia em seus territórios.

Reafirmamos nosso compromisso com o povo brasileiro e com a construção de uma nação mais justa e igualitária através da luta e da construção da Reforma Agrária Popular. Mais do que a democratização da terra, a reforma agrária, para nós, deve produzir alimentos saudáveis para alimentar todo o povo brasileiro, proteger os bens comuns da natureza e construir uma vida digna no campo.

Nos comprometemos em lutar contra a crise climática criada pelos países do Norte Global, pelos ricos do mundo, pelas transnacionais poluidoras e pelo agronegócio. Nos comprometemos com a preservação dos bens comuns da natureza e mantemos nossa meta de plantar 100 milhões de árvores e exigimos que os governos assumam o compromisso com o Desmatamento Zero e uma política massiva de reflorestamento.

Foto 5: Priscila Ramos


Nos comprometemos em lutar contra todas as formas de opressão e injustiça, em enfrentar incansavelmente toda forma de racismo, discriminação e LGBTfobia. Somos solidários e não nos calaremos diante do genocídio do povo palestino em Gaza, conduzido pelo Estado de Israel e pelos Estados Unidos, e nem diante da prisão ilegal de Julian Assange, ativista da democratização da informação e denunciante dos crimes de guerra dos Estados Unidos.

Por fim, reafirmamos o compromisso que assumimos há quarenta anos atrás: lutaremos até que os males do latifúndio sejam extintos de nossa sociedade e com ele toda opressão, miséria, destruição ambiental e fome.

Queremos reafirmar estes compromissos na luta cotidiana, mas especialmente, em nosso VII Congresso Nacional, a ser realizado em julho deste ano em Brasília (DF).

E, convidamos o povo brasileiro a celebrar nossa cultura e nossa produção e em conhecer a atualização de nosso Programa de Reforma Agrária Popular e o que propomos para construir um campo e um país de vida digna e saudável!

 

Viva o povo brasileiro! Viva a luta popular!

Lutar, construir Reforma Agrária Popular!

Rumo ao VII Congresso Nacional do MST!

 

Escola Nacional Florestan Fernandes, Guararema, 27 de Janeiro de 2024.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

Fonte: Página do MST