domingo, 2 de abril de 2023

Visita técnica identifica graves problemas em aldeia indígena de Paraty

 

Além da falta de segurança, o acesso ruim também põe em risco a vida dos moradores

Por Mônica Marins*

A Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro mobilizou uma força tarefa para conhecer de perto as necessidades da Aldeia Indígena Tekohá Dje’y, localizada no Rio Pequeno, em Paraty. A visita, realizada no dia 23 de março, reuniu diversas instituições com o objetivo de identificar o acesso a políticas públicas por parte dos indígenas que moram na aldeia e fazer uma escuta coletiva para que cada instituição possa agir, de acordo com a sua respectiva atribuição. 

A iniciativa partiu do ouvidor geral externo da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel, durante reunião com representantes da aldeia Tekohá Dje’y. Na ocasião, a vice-cacique Neusa Takuá pediu ajuda à Defensoria para os problemas de segurança que a aldeia vem enfrentando ao longo dos anos e que têm se agravado nos últimos meses.

A visita técnica contou com a participação do Núcleo de Tutela Coletiva que atua na região, da coordenação da Tutela Coletiva da Defensoria Pública, coordenação dos Programas Institucionais da Defensoria, do Programa de Proteção Defensores de Direitos Humanos (ambientalistas e comunicadores), das Comissões Parlamentares de Segurança Alimentar e de Direitos Humanos da ALERJ, além do Instituto de Terras do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ ) e do Conselho Estadual dos Direitos Indígenas.

O ouvidor Guilherme Pimentel explicou que a coordenação de Programas Institucionais da Defensoria, através da defensora Isabela Menezes, tem trabalhado para trazer modelos mais acessíveis de atendimento a favelas, periferias, quilombos, aldeia indígenas e comunidades caiçaras e foi este modelo que possibilitou à comitiva identificar de perto as principais necessidades da aldeia Tekohá Dje’y. A equipe foi recepcionada com dança tradicional e recebida pelo líder da aldeia, o cacique Demécio Martine, e a vice- cacique Neusa Takuá.





Acesso precário

Logo na chegada a equipe teve o primeiro desafio: acessar a aldeia pela estrada. Segundo os relatos registrados pelos ouvidores, a mobilidade é um grande problema para quem mora naquela localidade, pois a estrada é quase intransitável. Os indígenas contaram que recentemente uma senhora quebrou o pé e ficou sem socorro durante toda a madrugada porque ela não conseguia sair e nem o Samu podia entrar na aldeia devido à falta de acesso. Segundo a defensoria a inacessibilidade afeta vários direitos do povo, já que impede a ida à escola, por exemplo, ao hospital e até para o local de trabalho.

Mas se há problema no caminho que leva até a escola, as dificuldades são ainda maiores quando se consegue chegar. É que como não há tratamento de esgoto, os banheiros estão interditados e servem apenas de depósito. Além do mais, o prédio da escola que existe na aldeia, a Unidade de Ensino Guarani Nhembo’e Porã, que significa “O espeço do aprendizado”, é usada também como “posto de saúde”. De acordo com a constatação feita pelos ouvidores, a mesma sala de aula é usada como “sala de exame preventivo”, quando não há estudantes usando o local. A falta de mesas, cadeiras e armários é também uma das deficiências da escola. 


Causa indígena

Segundo Guilherme Pimentel a Defensoria Pública da União receberá um relatório da visita técnica. Ele explicou que cada instituição irá trabalhar um ponto específico, de acordo com suas atribuições. De acordo com Pimentel, a Ouvidoria pretende visitar todas as aldeias do estado do Rio de Janeiro para conhecer suas necessidades e principais demandas: “A luta pela preservação da cultura e dos povos indígenas é de todos e não aceitaremos nenhum direito a menos,” pontuou.

O Tekohá Dje’y é uma comunidade indígena Guarani Mbyá e Nhandeva no Rio Pequeno, município de Paraty-RJ, composta por 43 pessoas e que ocupa aproximadamente 8 hectares. Como é comum neste tipo de território, a área sofre com invasões de terras, desmatamento e caça ilegal. Por causa dos constantes ataques, invasões e constantes ameaças de morte contra os Indígenas Guarani Mbyá e Nhandéva, as lideranças indígenas têm pedido socorro. O programa de proteção aproveitou a visita para intensificar o trabalho de segurança dos indígenas.

Para a vice- cacique Neusa Tekuá a visita da Ouvidoria da Defensoria junto com a comitiva do estado, foi muito importante para a aldeia, porque coloca em pauta a causa indígena no Estado no Rio de Janeiro. Ela espera que a partir dessa visita outros passos sejam dados em direção à resolução dos problemas da aldeia. Neusa aponta a falta de representatividade do povo indígena nos espaços de cultura, educação, esporte e saúde, no âmbito municipal e estadual, como um problema a ser vencido, mas tem esperança de que se abra um diálogo a partir desse contato com a Ouvidoria da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.


Fotos: Guilherme Pimentel

Legendas:

Foto 1: Cacique Demécio Martine

Foto 2: A vice-cacique Neusa e o ouvidor Guilherme Pimentel.

Foto 3: Comunidade da aldeia com equipe técnica



* Nova acendedora do Pavio Curto, Mônica Marins é Jornalista há 30 anos - tendo passado por diversas emissoras de tv e rádio, bem como redações de jornais e portais de notícia, no Rio de Janeiro e interior do estado - principalmente na Região dos Lagos. Desde 2015, Mônica trabalha exclusivamente com assessoria de imprensa política. Foi diretora do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e da Rede de Mulheres do Rádio. Atualmente colabora como  jornalista  voluntária da Agência Internacional de Notícia Pressenza.

Bem-vinda!!


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