quinta-feira, 17 de junho de 2021

O reflexo da pandemia na jornada de trabalho feminina

Em meio à crise causada pela Covid-19, mulheres lideram taxa de desemprego



 Ilustração: Clóvis Lima 


Por Polliana Amorim e Ana Júlia 

Durante anos as mulheres vêm lutando contra a desigualdade de gênero existente no mercado de trabalho. Dificuldades como conciliar os afazeres domésticos com o serviço, a diferença salarial e o tratamento no ambiente de trabalho são exemplos do que elas enfrentam no dia a dia. Através de muita luta, o cenário vem mudando para melhor, porém, após o início da pandemia da Covid-19, em 2020, foi resguardado que mais da metade das mulheres estão fora do mercado de trabalho.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2020, afirmaram que o número de mulheres empregadas na segunda metade do ano foi de 45%, sendo o menor desde 1990.  Além disso, o número de trabalhadoras em tempo integral também diminuiu, pois muitas mulheres buscam serviços que ofereçam a possibilidade de conciliar o trabalho com a vida de mãe, visto que algumas crianças ainda estão estudando remotamente.

Foi comprovado também que, mesmo quando ambos os pais estão de home office, os homens não realizam a mesma quantidade de trabalho doméstico e não têm o mesmo cuidado com os filhos.

A empreendedora Elisângela Barbosa, moradora de Barra Mansa, decidiu se arriscar a abrir um novo negócio durante a pandemia. Em março de 2021, ela abriu uma loja de bolos próxima à sua casa. Porém, ao conquistar esse novo espaço, veio a dificuldade de consolidar seu trabalho com o cuidado com os filhos, que têm estudado através do ensino remoto.

"Foi desafiador abrir um negócio em casa em meio a todo esse caos, mas eu consegui. Porém, nesse momento fica um pouco difícil separar a vida de empreendedora com a de mãe. Optei por manter meu filho mais novo, que ainda está na 6ª série, em casa por segurança, mas confesso que cuidar de casa, da loja e ajudar ele nas atividades da escola não está sendo fácil", explicou Elisângela.

 

Dificuldade no meio de trabalho jornalístico

Durante a pandemia, o jornalismo tem sido essencial para divulgar notícias importantes e verídicas para a população. Em uma recente pesquisa feita pelo Serviço Nacional de Auxílio à Justiça e Cidadania (SENAJ), foi mostrada a dificuldade enfrentada pelas mulheres jornalistas que são mães e também sobre como a sobrecarga da mulher é invisibilizada.

Entretanto, o estudo mostrou que a maioria das jornalistas são contra a volta das aulas presenciais, apesar da complexidade de administrar a jornada de trabalho com a maternidade.

A jornalista Paula Zarth Padilha, dirigente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) e Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) – onde em agosto de 2020 ajudou a construir coletivamente uma pesquisa sobre as condições de trabalho das mães jornalistas na pandemia – conta sua perspectiva como mãe e trabalhadora. Paula, que também é mãe solo, relata que a pandemia foi uma grande reviravolta em sua rotina e que não consegue manter a mesma vida de antes.

"Faz dois meses que eu me demiti do meu antigo trabalho, pois em casa eu percebi que eu não estava dando conta das responsabilidades e demandas. Ele era de jornada parcial, era proporcional ao que eu utilizava como complementação de renda por conta da responsabilidade exclusiva que eu tenho com a minha filha", disse.

"Moramos somente eu e ela, então todos os tipos de responsabilidade por ela são minhas. Antes da pandemia eu levava e buscava na escola, ao médico ou em atividades culturais", complementou.

A jornalista ainda ressalta que, nessa nova realidade, é complicado entender que o significado de lar agora é outro.

"Antes toda essa nossa rotina era essencialmente na rua, nossa casa era um dormitório e um ambiente para passarmos o final de semana. Essa foi a mudança estrutural mais drástica. A dimensão da gente passar o tempo todo em casa agora é muito diferente", expressou.

O espaço para mulheres em empresas, no cenário político e em posições de liderança sempre foi pequeno. Desde o último ano, a mulher tem se desdobrado, se reinventado e até mesmo se submetido a injustiças para manter sua renda e reivindicar seu lugar no mercado de trabalho. Porém, isso não é apenas o reflexo da pandemia, mas também as consequências do machismo estrutural em nossa sociedade.






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