Em
meio à crise causada pela Covid-19, mulheres lideram taxa de desemprego
Ilustração: Clóvis Lima
Por Polliana Amorim e Ana Júlia
Durante
anos as mulheres vêm lutando contra a desigualdade de gênero existente no
mercado de trabalho. Dificuldades como conciliar os afazeres domésticos com o
serviço, a diferença salarial e o tratamento no ambiente de trabalho são
exemplos do que elas enfrentam no dia a dia. Através de muita luta, o cenário
vem mudando para melhor, porém, após o início da pandemia da Covid-19, em 2020,
foi resguardado que mais da metade das mulheres estão fora do mercado de
trabalho.
Dados
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2020, afirmaram que o
número de mulheres empregadas na segunda metade do ano foi de 45%, sendo o
menor desde 1990. Além disso, o número
de trabalhadoras em tempo integral também diminuiu, pois muitas mulheres buscam
serviços que ofereçam a possibilidade de conciliar o trabalho com a vida de
mãe, visto que algumas crianças ainda estão estudando remotamente.
Foi
comprovado também que, mesmo quando ambos os pais estão de home office, os homens não realizam a mesma quantidade de trabalho
doméstico e não têm o mesmo cuidado com os filhos.
A
empreendedora Elisângela Barbosa, moradora de Barra Mansa, decidiu se arriscar
a abrir um novo negócio durante a pandemia. Em março de 2021, ela abriu uma
loja de bolos próxima à sua casa. Porém, ao conquistar esse novo espaço, veio a
dificuldade de consolidar seu trabalho com o cuidado com os filhos, que têm
estudado através do ensino remoto.
"Foi
desafiador abrir um negócio em casa em meio a todo esse caos, mas eu consegui.
Porém, nesse momento fica um pouco difícil separar a vida de empreendedora com
a de mãe. Optei por manter meu filho mais novo, que ainda está na 6ª série, em
casa por segurança, mas confesso que cuidar de casa, da loja e ajudar ele nas
atividades da escola não está sendo fácil", explicou Elisângela.
Dificuldade
no meio de trabalho jornalístico
Durante
a pandemia, o jornalismo tem sido essencial para divulgar notícias importantes
e verídicas para a população. Em uma recente pesquisa feita pelo Serviço
Nacional de Auxílio à Justiça e Cidadania (SENAJ), foi mostrada a dificuldade
enfrentada pelas mulheres jornalistas que são mães e também sobre como a
sobrecarga da mulher é invisibilizada.
Entretanto,
o estudo mostrou que a maioria das jornalistas são contra a volta das aulas
presenciais, apesar da complexidade de administrar a jornada de trabalho com a
maternidade.
A
jornalista Paula Zarth Padilha, dirigente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Paraná (SindijorPR) e Federação Nacional dos Jornalistas
(FENAJ) – onde em agosto de 2020 ajudou a construir coletivamente uma pesquisa
sobre as condições de trabalho das mães jornalistas na pandemia – conta sua
perspectiva como mãe e trabalhadora. Paula, que também é mãe solo, relata que a
pandemia foi uma grande reviravolta em sua rotina e que não consegue manter a
mesma vida de antes.
"Faz
dois meses que eu me demiti do meu antigo trabalho, pois em casa eu percebi que
eu não estava dando conta das responsabilidades e demandas. Ele era de jornada
parcial, era proporcional ao que eu utilizava como complementação de renda por
conta da responsabilidade exclusiva que eu tenho com a minha filha",
disse.
"Moramos
somente eu e ela, então todos os tipos de responsabilidade por ela são minhas.
Antes da pandemia eu levava e buscava na escola, ao médico ou em atividades
culturais", complementou.
A
jornalista ainda ressalta que, nessa nova realidade, é complicado entender que
o significado de lar agora é outro.
"Antes
toda essa nossa rotina era essencialmente na rua, nossa casa era um dormitório
e um ambiente para passarmos o final de semana. Essa foi a mudança estrutural
mais drástica. A dimensão da gente passar o tempo todo em casa agora é muito
diferente", expressou.
O
espaço para mulheres em empresas, no cenário político e em posições de
liderança sempre foi pequeno. Desde o último ano, a mulher tem se desdobrado,
se reinventado e até mesmo se submetido a injustiças para manter sua renda e
reivindicar seu lugar no mercado de trabalho. Porém, isso não é apenas o
reflexo da pandemia, mas também as consequências do machismo estrutural em
nossa sociedade.
Sem comentários:
Enviar um comentário