Por Julia Andrade e Carol Angelo*
O jongo ou caxambu é um ritmo trazido da região Congo-Angola, na África, pelo povo escravizado que trabalhava nas fazendas de café do Vale do Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
O povo Bantu, que trouxe o jongo para o Brasil, foi de extrema importância para a formação cultural do país. Utilizava a dança para, além de se manter próximo à própria cultura, entreter os brancos escravocratas, donos das fazendas em que trabalhavam, em suas festividades religiosas.
A dança ainda sofre grande preconceito por derivar de uma cultura preta e escravizada. O jongueiro Cosme Caxambu, da Associação Cultural Sementes D’África, acredita que esse tabu vem sendo quebrado por meio de uma maior visibilidade em escolas, universidades, teatros e outros espaços. Com seus 50 anos de dança, Cosme também afirma a necessidade que a tradição teve de se adaptar para continuar sobrevivendo.
Originalmente, o jongo é uma dança praticada somente pelos mais velhos, Hoje, o grupo de Cosme tem entre 15 e 30 pessoas — há crianças de 3 anos que já fazem parte dessa confraternização.
O dançarino também destaca a importância cultural do jongo na região Sul Fluminense, que atualmente conta com cinco grupos tradicionais. Apesar disso, Cosme acredita que o apoio do poder público poderia contribuir para ampliar a influência e o impacto social positivo da dança.
Em Volta Redonda, cidade próxima ao município de Barra do Piraí, há outro coletivo de matriz africana, o Jongo Di Volta. Como uma iniciativa de extensão dos jongueiros de Pinheiral, o historiador e poeta José Geraldo da Costa, coordenador do coletivo, relata que sua ligação com o jongo está presente desde o nascimento. Criado por uma família negra do Vale do Paraíba, Geraldo foi formalmente apresentado ao jongo nos anos 1980 pelo mestre de Capoeira Odair e a mestre Fatinha de Pinheiral.
Questionado sobre a relação do jongo com a população volta-redondense, o historiador menciona a intolerância que ronda a população negra e a sua cultura. Há uma associação de que práticas religiosas afrodescendentes são malignas, o que acirra o preconceito adotado. Ele cita o exemplo de Pinheiral: “Nas comunidades tradicionais como lá, ainda há muito preconceito, por parte, inclusive, do poder público”, explica, ressaltando o desrespeito até das entidades municipais.
Apesar das diversas situações controversas, buscando reprimir manifestações culturais de matriz africana, Geraldo acredita que “manter a memória do Jongo é manter vivas nossas referências, memórias coletivas de lutas e resistências. O Jongo é uma Herança Cultural Negra criada no Vale do Paraíba”.
*Estudantes de Jornalismo
Fotos: Carol Angelo
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