A criação artística em tempos de COVID-19 seguiu novos caminhos para continuar ativa
Por Caio Ribeiro e Letícia de Souza
A pandemia de COVID-19 mudou a rotina de todos e, no meio artístico, não foi diferente. O setor cultural que abrange diversas manifestações artísticas – como a dança, a pintura, o teatro e o cinema, por exemplo – teve que se reinventar e adaptar-se à nova realidade. Para muitos profissionais, a internet tornou-se uma saída em meio as regras de distanciamento social, pois possibilitou que os trabalhos fossem apresentados ao público virtualmente. Hoje, seja por opção própria ou não, alguns profissionais ainda atuam de forma remota por meio das plataformas digitais, e suas produções, oferecidas em novos formatos.
Pelo computador
Desde o início da pandemia, os artistas têm tido dificuldade para elaborar suas produções e levá-las até o público. O mundo digital tornou-se o único meio de dar continuidade aos trabalhos. É o caso de Mani Ceiba, moradora de Visconde de Mauá que trabalha com artes visuais há cerca de 20 anos. A artista plástica conta que seu trabalho foi afetado diretamente pelo cenário atual. “Eu participava de feiras de arte e tinha algumas lojas que vendiam peças, mas em virtude da pandemia, as feiras e as lojas fecharam. Apenas algumas voltaram a funcionar, mas ficam distantes e a entrega se torna mais difícil”, diz a artista.
Mani também possui um ateliê em cerâmica, mas o trabalho foi paralisado devido à falta de retorno financeiro durante esse período. “Foi preciso deixar essa atividade, as queimas no forno de cerâmica gastam um botijão de gás por queima e, além disso, o ateliê tinha visitação para a venda das peças. O investimento em todo o processo durante a pandemia não compensa. Meu retorno financeiro torna-se bem menor, pois são as produções que possuem maior valor", afirma a profissional.
Em meio a situação atual, a artista passou a se dedicar mais às ilustrações digitais. Mani ressalta que o mundo virtual facilitou a distribuições dos materiais visuais. “Foi a melhor saída. É a maneira mais viável por envolver gastos menores, agilidade de entrega e a facilidade de fazer em casa. Antes, não me dedicava tanto a esse formato, mas nesse período foi necessário me adaptar”, comenta Mani.
Longe do público
Cantora, compositora e multi-instrumentista autodidata. Samara Segades é uma artista independente, moradora de Cariacica (ES) e, assim como outras pessoas que atuam no meio musical, teve suas produções afetadas pela pandemia. A musicista diz que precisou recorrer aos meios virtuais para realizar suas apresentações. “Foi necessário levar a arte para o público, mas sem aglomerar. As lives foram o caminho para divulgar meu trabalho como cantora, que antes era feito por meio de shows e festivais em lugares pequenos”, conta a artista.
Samara destaca que, mesmo diante do isolamento, pode alcançar um público maior em virtude das transmissões ao vivo que realizou pela internet durante esse período. “Com as lives, foi possível mostrar meu trabalho com mais amplitude. Só divulgava as atrações pelo Facebook e presencialmente, mas agora, “ao vivo” no Instagram e por meio das postagens no IGTV pude alcançar mais pessoas”, diz a cantora.
Para a artista, a renda obtida por meio da música não é suficiente e, por isso, desenvolve atividades em outros campos para obter retorno financeiro. “A música não traz um sustento total, por essa razão, preciso de dedicar a outros trabalhos. Atuo como faxineira, leciono aulas particulares de filosofia e ensino religioso e, também, multiplico meu conhecimento com os instrumentos para quem deseja aprender. A internet tem me ajudado com o PicPay – aplicativo utilizado para obter doações em lives – mas não é o bastante”, ressalta.
Mesmo após a pandemia, a artista diz que pretende dar continuidade aos novos formatos que ofereceu durante esse cenário. “Pretendo continuar com as lives. Minha intenção é, depois da pandemia, fazer as transmissões ao vivo dos shows presenciais por meio das minhas redes sociais”, conclui Samara.
Sentindo na pele
Alice Moura, de 25 anos, vive em Resende (RJ) e é tatuadora. Durante a pandemia, a artista precisou se reinventar para dar continuidade ao seu ofício - atividade arriscada para se exercer em um período no qual o distanciamento social se faz necessário, já que exige contato corporal direto com o cliente por até dez horas, dependendo do desenho. “Começamos a trabalhar com sistema de sinal, onde as pessoas pagam uma porcentagem adiantada para a criação de desenho exclusivos, e quando as coisas melhorassem, poderiam tatuar e pagar o restante”, conta a artista que mantém um estúdio de tatuagem, o Wonder Ink, com a noiva.
“Fazíamos videochamadas para conversar sobre a criação das artes com os clientes. Mas chegou um momento em que não era mais viável esperar as coisas melhorarem muito. As pessoas estavam ficando impacientes com o dinheiro já gasto e tivemos que retornar às atividades, com todas as restrições e cuidados possíveis. Hoje trabalhamos apenas com hora marcada e sem aglomerações dentro do estúdio”, completa.
Além das dificuldades geradas pelo distanciamento social, Alice ainda se deparou com mais um problema para exercer sua arte na pandemia: o aumento do valor dos materiais utilizados nos procedimentos das tatuagens. “Os valores dos materiais médicos básicos que preciso, como luvas, máscaras, aventais e produtos de higiene hospitalar, que aumentaram mais de 100%”, afirma.
Por isso, a tatuadora também acabou sentindo o impacto da pandemia em questões financeiras. Diante disso, Alice espera que a crise da gerada pela COVID-19 se encerre para recuperar o prejuízo. “Com os preços dos mantimentos lá em cima, estamos lutando para manter uma rotatividade de clientes e conseguir bancar as contas. A esperança é que melhore de novo logo”, finaliza.
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