terça-feira, 9 de novembro de 2021

Historiadores do MEP-VR comentam o lançamento do filme sobre Marighella

 Por José Maria Silva, o Zezinho*

Após um atraso de dois anos, o lançamento nacional, em 4 de novembro, do filme Marighella, do cineasta Wagner Moura, baseado no livro do jornalista Mário Magalhães, provocou nos historiadores ligados ao Pré-Vestibular Cidadão do Movimento pela Ética na Política de Volta Redonda (MEP-VR) importantes reações. Um deles, Luiz Henrique de Castro Silva, é autor de outro livro sobre o mesmo período, que conta a história de um companheiro de Marighella na Aliança Libertadora Nacional, a ALN: ‘O Revolucionário da Convicção: vida e ação de Joaquim Câmara Ferreira’.  

DOIS LIVROS: UM FILME

- Conheci o Mário Magalhães e nos tornamos amigos quando eu realizava a pesquisa para a biografia de Joaquim Câmara Ferreira, o Velho ou Toledo, que fundou junto com Carlos Marighella a ALN, a maior organização de luta armada contra a ditadura militar. Na mesma época, Mário estava elaborando a biografia de Marighella, um dos maiores revolucionários que o Brasil já teve e que foi considerado o inimigo público número um pela ditadura militar – contou Luiz Henrique, que é mestre em História, ex-coordenador do MEP-VR e professor do Pré Vestibular Cidadão.

“Nesse período, entre 2008 e 2009, estávamos entrevistando as pessoas que haviam convivido com esses dois homens: familiares, militantes da ALN, de outras organizações de esquerda e do Partido Comunista Brasileiro (PCB), e membros da ordem religiosa dos dominicanos, que os apoiou logisticamente. Mário publicou ‘Marighella - O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo’ e eu - ‘O Revolucionário da Convicção: vida e ação de Joaquim Câmara Ferreira’ ”, explicou o historiador. 

Segundo ele, “retomar a história desses homens, como o faz agora o ator e diretor Wagner Moura com o filme sobre Marighella, é recuperar a memória histórica de um Brasil que muitas vezes sofre pela ausência da mesma.” 

MEMÓRIA DA RESISTÊNCIA 

 - Os inimigos de Marighella estão aí, transitando no poder e conduzindo o país cada vez mais para o abismo. Uma vez, Marighella afirmou que não teve tempo de sentir medo. Pois essa mensagem vale muito para os jovens que se contrapõe ao autoritarismo que hoje nos governa", declarou Danilo Caruso, doutor em história e também professor no Pré Vestibular Cidadão do MEP.

Na opinião de Paulo Célio, doutor em história, professor universitário e colaborador do MEP, "Marighela era um homem de coragem. Baiano arretado, optou pela luta armada para se contrapor à ditadura se tornava cada vez mais intolerante e agressiva.  Lutou até o fim por seus ideais. Em um período em que não se tolerava oposição, não se curvou às imposições dos generais. O filme de Wagner Moura chega em boa hora, para celebrar a memória da resistência, para fazer um contraponto a esse governo genocida que se espelha na ditadura. Os tempos são outros, as táticas são outras mas a memória de Marighela ainda incomoda aos aspirantes de ditadores."

POLÊMICAS

– Estou aguardando ansioso para assistir, pois acredito que quanto mais tivermos acesso aos relatos desse período, mais condições teremos de refutar os negacionistas que ainda hoje dizem que a ditadura militar foi “boa” e que todos os que a combateram eram bandidos. O filme chega cercado de polêmicas, como a dificuldade dos produtores o lançarem no Brasil, onde chega 2 anos e nove meses após a sua apresentação no Festival de Berlim. Polêmica porque apresenta a história de um líder revolucionário controverso, não por causa das suas intenções na resistência contra a ditadura militar, mas por ter recorrido à luta armada - afirmou o professor Anderson Couto, coordenador do núcleo de História no Pré Vestibular Cidadão.  

Para a professora Maria Eloah, mestranda (UFFRJ) e professora licenciada do MEP, e igualmente na expectativa, “esperamos muito tempo por esse filme, já que em tempos como o atual ver a história de um revolucionário nas telas do cinema nos faz ter forças pra resistir às constantes investidas autoritárias que temos sofrido. Marighella resiste e nós também!”


* Membro do Movimento pela Ética na Política (MEP) de Volta Redonda

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